Quem já nos acompanha há algum tempo sabe que somos ferrenhos defensores dos artistas mintarem seus próprios smart contracts para suas coleções.
Nesse artigo queremos dividir com vocês os porquês dessa nossa posição.
Primeiro, nem sempre fizemos isso. Como todo artista, no início usamos os contratos compartilhados de marketplaces, mas especificamente do OpenSea e do Hic et Nunc. Como praticamente todos os artistas, começamos do mesmo ponto. Especialmente porque, naquela época, para ter o seu smart contract, você teria que saber programá-lo.
A primeira dificuldade que tivemos por usarmos contratos compartilhados foi o fechamento do Hic et Nunc, que acabou sendo resolvido com a criação do Teia.
Pouco tempo depois, começamos a ser questionados por alguns colecionadores da rede ethereum, especialmente o BRRRR, sobre o porque não estarmos criando nossas coleções em contratos próprios.
Nessa época já haviam algumas ferramentas disponíveis para essa criação, como as lojas do Mintable e as coleções do Rarible. E o ThirdWeb e o Manifold, salvo engano, haviam acabado de ser lançados.
Os argumentos que nos apresentavam focavam em dois dos principais pilares do NFT: procedência e propriedade.
O NFT vem revolucionando o mercado de arte digital justamente porque criou meios de garantir a procedência e a propriedade de obras digitais, dando assim segurança para o colecionador.
E o que nos questionavam, na época, era justamente isso: se o contrato em que seu NFT foi mintado não é seu, não é administrado por você, como ter segurança?
O que acontecerá se o marketplace fechar (como realmente aconteceu com o Hic et Nunc) e ninguém mais conseguir administrar esse contrato inteligente?
O mundo crypto foi resumido brilhantemente pela famosa frase de Andreas Antonopoulos: "Your keys, your Bitcoin. Not your keys, not your Bitcoin".
O controle está atrelado diretamente às suas chaves, à sua carteira cripto. Sem isso, você está terceirizando o controle, está abrindo mão do controle.
Ou, no pior caso, você perdeu o controle.
Com o NFT não é diferente, mas a frase pode ser expandida para dizer também "não é seu contrato, não é seu NFT". A arte pode ser sua, mas o NFT não é... pelo menos não como deveria ser.
Hoje, todos as nossas coleções são criadas através de smart contracts nossos, e usamos para isso o ThirdWeb, o Manifold, o Mintplex e agora o TzCreator para as coleções em tezos (em breve escreveremos um artigo mostrando as diferenças entre cada uma destas ferramentas).
Mas aqui entra uma grande discussão.
Já ouvimos de diversos artistas: "ok, eu entendo, mas não quero ter que aprender a parte técnica. Só quero me preocupar em criar. Artista não precisa entender da parte técnica".
Grande engano.
Vamos pensar no mercado de arte tradicional. Se sou um pintor, antes de começar a pintar tenho que comprar telas, pincéis, tintas e pensar nas melhores molduras que serão colocadas na minha obra final.
Para isso tenho que aprender sobre diversos materiais, saber as melhores marcas e sair em busca delas para comprar. Tudo isso antes de sequer começar a pintar.
Da mesma forma, usando nosso exemplo (fotógrafos), se venderemos nossas fotografias impressas, temos que entender de impressão fine art e impressoras (ainda que seja somente para escolher o melhor local para impressão), tipos de papéis e todas as formas de impressão (papel, canvas, metal, entre outros).
Ou seja, temos que entender da parte técnica de impressão, antes de pensar em criar a obra que será impressa.
Sem isso, podemos fazer a melhor foto da nossa carreira, se ela for impressa no papel errado ou da forma errada, perderá o seu valor.
Por que seria diferente no mercado cripto?
Simples: não é!
Nossa obra é valorizada não só pela arte em si, mas também pela base em que ela é exteriorizada ao mundo.
E no mundo do NFT essa base é composta pela rede + forma. Ou seja, se escolhemos um boa blockchain, que seja tecnicamente segura, descentralizada e se a usamos da melhor forma para mintar nossas obras.
E na análise da melhor forma, levamos em conta se o artista usou um contrato próprio ou um contrato compartilhado; se o contrato é auditado ou não é auditado; e por vezes a ferramenta usada para o deploy do contrato.
Dizemos isso inclusive como colecionadores, pois hoje, antes de comprar uma obra, analisamos cada um destes itens. E isso já nos impediu de comprar obras que gostamos bastante, mas eram mais caras e a coleção não possuía uma base de smart contract que considerássemos segura para aquele investimento.